Arquivo do mês: março 2020

Bases Norteadoras para construção de uma Escola Cívico-Militar

Transformar uma escola pública tradicional em uma “escola cívico militar” não é um trabalho fácil, pois exige paciência, tempo, dedicação e acima de tudo conscientização. Não é pela força, nem impondo regras que as mudanças virão. Elas passam pela mudança de mentalidade que gera a mudança de comportamento.

Neste processo sensível de construção do compartilhamento de uma Gestão Escolar, na qual se tem duas direções, sendo uma pedagógica/administrativa e outra disciplinar, alinhar o pensamento entre gestores é um grande desafio, maior ainda repassá-las aos demais membros da comunidade escolar. A mobilização interna e externa torna-se extremamente necessária.

O primeiro ponto que é preciso compreender é que trazer um modelo como alternativa ao tradicional é um verdadeiro processo de democratização do ensino. Grande parte das escolas militares estão em grandes centros, com regras para ingresso extremamente difíceis. Criar escolas cívico-militares em regiões com índices elevados de criminalidade e baixos níveis de indicadores escolares é dar oportunidade para aqueles que possivelmente nunca teriam a possibilidade de estudar em uma escola assim. Tais escolas ao final irão representar no máximo 1% das escolas tradicionais em algumas comunidades.

Temos utilizado os seguintes critérios na construção de uma escola cívico-militar no DF:

1ª FASE – Conscientização (quebra de preconceitos por meio de novos conceitos);

Para que um novo hábito se estabeleça são necessários pelo menos 21 dias seguidos de ações, o que exige disciplina e persistência. (Abaixo cada cor representa 21 dias totalizando 63 dias, após isso, é necessário sair da visão cartesiana e passá-lá para uma sistêmica onde todas as pirâmides se conectam em processo de construção diária).

Recompensas e punições diárias reforçam os hábitos

“Nós devemos criar as nossas recompensas quando as atividades que nos comprometemos a iniciar não são recompensadoras em si.”

2ª FASE – Metodologia (o que fazer, como fazer e quem mobilizar);

Alguns passos nesta direção:

– É preciso definir claramente o resultado (mudança de comportamento, por exemplo);

– É preciso encontrar uma forma de se cobrar ou de ser cobrado pela ação.

– É preciso começar pequeno e focado:  inclua na rotina um hábito por vez.

3ª FASE – Ações individuais e coletivas (planejamento orientado para o problema).

– É preciso identificar e focar naqueles que inicialmente queiram criar o hábito e que acreditam no projeto.

– As conversas individuais com os alunos mais resistentes são necessárias para conscientizar e orientar, da mesma forma com aqueles que são parceiros no projeto. Os apoiadores devem ser potencializados e multiplicados.

– As formaturas matinais servem para orientar e fortalecer as ações coletivas.

– Planeje um tempo determinado para ordem unida individual com os Chefes de Turma e depois com o grupo.

metodologia I

MOBILIZAÇÃO INTERNA E EXTERNA

metodogia II

Na primeira fase grande parte das advertências e medidas disciplinares estão voltadas para atrasos, uso de brincos e piercings, bermudas, calças rasgadas, uso de celular em sala de aula, não fazer o dever de casa e desrespeitos diversos. Questões que dependem mais da colaboração da família do que da polícia e da escola. É preciso conscientizar os pais de seu papel na escola e de sua importância no projeto. Por outro lado, alguns pontos necessitam da participam efetiva do professor em sala de aula e da autuação diária dos monitores no combate a pequenas transgressões da disciplina.

O QUE TEMOS ENSINADO E COBRADO?

metodologia III

 

O QUE BUSCAMOS NESTE MOMENTO?

normatização

A padronização e a uniformização estão alicerçadas na norma, mas como o hábito leva em média 21 dias para ser incorporado, os dois primeiros são feitos de forma gradual. Padronizar leva tempo e exige repetição com correção. É preciso compreender que a uniformização é coletiva, já a padronização passa pelo individual. Um aluno “padrão” deve ser um exemplo a ser seguido. É preciso dar-lhe um reforço positivo.

O QUE ALMEJAMOS PARA O FUTURO?

Escola Limpa

A colocação dos monitores em cadeiras em pontos estratégicos para controlar a movimentação dos corredores é o primeiro passo na redução da movimentação de alunos nos corredores. A presença do monitor ajuda na construção do hábito, afinal ele precisa ser lembrado, dentro de uma rotina que gera punições e recompensas. Consequentemente, com os alunos em sala de aula, surge a necessidade da participação da equipe pedagógica, em especial, o professor em sala de aula na construção de uma escola silenciosa. A diminuição do fluxo de alunos nos corredores e a delimitação de áreas para a alimentação por si só começa a contribuir para uma escola mais limpa. A conscientização para se evitar a reprodução da “cultura do lixo” na cidade fortalece a ideia de que a escola pertence a todos, por isso precisa ser bem cuidada.

COMO FUNCIONA A FORMAÇÃO DO PENSAMENTO PARA CHEGAR À CONSCIENTIZAÇÃO

(P + P + S + A = R)

palavras

O Hábito pode ser entendido como um padrão consistente de comportamento, uma inclinação por alguma ação ou disposição de agir constantemente de certo modo, adquirida pela frequente repetição de um ato. É algo que se faz regular e automaticamente. A repetição intencional de novos pensamentos, percepções e principalmente de ações em determinadas situações passam a ser assimiladas diariamente, após iniciada, à medida que estas repetições de novos hábitos acontecem passam a ser incorporadas pelo pensamento e se tornam novos hábitos, automáticos. Isso ocorre por causa da tendência natural do cérebro de querer economizar energia.

Formação do hábito

QUE AÇÕES ESPERAMOS DOS ALUNOS A LONGO PRAZO:

1 – Mudança de mentalidade;

2 – Mudança de comportamento;

3 -Que se tornem honrados cidadãos!

mudança de mentalidade

Todo hábito tem um gatilho disparador que o antecede e uma recompensa final. Para que a mudança de hábito tenha sucesso, é necessário identificar estes dois mecanismos.

Identificar e modificar um hábito é a porta de entrada para um novo padrão de comportamento com novos vários hábitos.

O QUE ESTAMOS TRABALHANDO NESTE MOMENTO?

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respeito

O respeito é ensinado e cobrado, mas percebe que os “filhos tendem a repetir os erros dos pais em maior ou menor proporção”, sendo assim, a mobilização dos pais no processo de construção do pensamento, que irá gerar a mudança de mentalidade e do comportamento, é fundamental. A uniformização, inicia o processo de padronização.

políticas públicas

O diagnóstico é necessário para compreender o cenário. A partir dele formulam-se projetos e ações específicas para a sua implementação. A avaliação em um primeiro momento acaba sendo diária, pois no início quase tudo funciona na lógica de “erros e tentativas”.

fases

As punições devem seguir uma lógica. De início, haverá uma cobrança pelo “endurecimento” das regras dentro da escola. Algo que funciona em um primeiro momento, mas como não se cria o hábito, logo se torna cíclica, ou seja, quando se “arrocha” há resposta, quando folga um pouco na cobrança tudo volta ao que era antes, mas quando aliado a punição existe a conscientização, a mobilização dos pais e professores para auxiliarem no processo de construção da nova “mentalidade”, como consequência ocorrerá a mudança de comportamento esperada.

Por Aderivaldo Cardoso – Pós Graduado em Segurança Pública e Cidadania pelo Departamento de Sociologia da Universidade Brasília.  Atualmente é Supervisor Disciplinar em uma Escola Cívico-Militar no DF.

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Saudade dos amigos da Força Nacional

Hoje acordei “melancólico”. Acordei lembrando dos amigos que fiz na Força Nacional há mais de uma década. Neste período éramos comandados pela Senasp. O secretário era o digníssimo professor Ricardo Brisolla Balestreri. Meu comandante no BEPE era o Coronel Josias Seabra e meu subcomandante era o querido amigo Coronel Idenisio Bell. Além disso, também fazia parte do grupo o Coronel Paim e o Coronel Pontes (atual comandante geral).

Lembro com carinho do aprendizado e da formação da Inspetoria Geral fa FNSP. Saudades do grande amigo que fiz para vida, sargento Milton Ritter , também lembro com carinho do querido amigo da PMERJ, sargento Luciano e da SD Nausica Rodrigues Dos Santos.

Uma missão que me marcou muito foi a morte do SD Cristo durante um curso de tripulantes operacional. Foi a primeira vez que entrei em um helicóptero e fui parar no meio da mata. Lembro do turno e dos tristes acontecimentos. Também acompanhei de perto a morte do CB Joselito durante um capotamento em que caiu em uma lagoa.

Lembro com carinho das defesas que fiz para vários colegas, mesmo depois de já ter voltado para Brasília. Uma delas eu lembro com carinho, pois envolvia dois amigos que já não estão mais entre nós. Quanta saudades do meu amigo Sargento Walquenis! Quantas histórias com ele. E o querido irmão Marcos Manduca, que mesmo no Tocantins sempre estávamos nos falando.

Hoje vendo minha história marcada por perseguições, derrotas e vitórias, sou grato a Deus por tudo isso e por todos que conheci durante a caminhada. Sou grato pelas experiências vividas em diversas áreas, mas acima de tudo por todas as amizades conquistas durantes esses mais de vinte anos de estrada na PMDF.

A nostalgia de hoje, não poderia deixar de ser compartilhada neste espaço. Pois aqui já expus diversas opiniões, em algumas fui até punido, é aqui que faço minha “cartase” diária e aonde reencontro amigos e mato minha saudade daqueles que estão distantes. Alguns deles, nem o tempo, nem a distância, muito menos a morte, conseguiram separar, pois estão vivos em minha memória e principalmente em meu coração.

Obrigado por tudo, meu Senhor e meu Deus. Força! Brasil! FN 2009

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A importância da Gestão Compartilhada e da qualificação profissional

O ano de dois mil e dezenove está marcado para sempre na história do Governo do Distrito Federal, bem como na da Polícia Militar. Após receber a missão do governador, secretaria de educação e secretaria de segurança iriam trabalhar juntas, dentro das escolas publicas. Não era um reforço de policiamento. Eles iriam assumir juntos a direção das escolas.

O objetivo desse projeto, inicialmente chamado de Gestão Compartilhada, era trazer de volta aos professores o respeito há muito tempo perdido pelos alunos. O trabalho era focado em reestabelecer o domínio sobre a escola, alimentar os alunos com valores e princípios, resgatar o patriotismo e o respeito perante os professores e aos colegas de sala.

Para tanto, foi oferecido vários cursos para capacitar os policiais que iriam atuar diretamente dentro das escolas. O objetivo era orientar os profissionais para atuar nos mais diversos problemas. Com a capacitação, o policial militar saberá como lidar com as diversas situações vivenciadas na escola, como lidar com distúrbios, alunos portadores de necessidades especiais, violência na escola, dentre outros.

Deste modo, a capacitação dos militares possui um papel fundamental para o bom andar da gestão compartilhada. Sem policiais capacitados, erros serão cometidos, o que irá macular a imagem da Polícia Militar.

Com os policiais bem orientados e treinados, eles poderão atuar de forma profissional dentro das escolas, contribuindo ainda mais para o sucesso do projeto. Com instruções sobre violência doméstica, abuso sexual, primeiros socorros, legislação sobre crianças e adolescentes, os militares conseguem transmitir o conhecimento e aplicá-la na escola conforme a necessidade.

Sendo assim, com a implementação da Gestão Compartilhada junto com profissionais habilitados e treinados, é possível resgatar no aluno o respeito dentro da escola, instruí-los com princípios basilares da nossa sociedade, bem como servir de referencia a exemplo a esses alunos que muitas vezes se encontram em uma situação de abandono afetivo dentro de casa.

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Você é contra ou a favor da criação da Polícia Distrital, uma espécie de Guada municipal do DF?

Nesta última semana o Governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha, veio a público afirmar que irá enviar a Câmara Legislativa projeto de criação da “Polícia Distrital”, uma espécie de Guarda Municipal para o Distrito Federal. O Artigo 144 da CF, que trata da Segurança Pública no país, afirma em seu parágrafo 8º que:

“Os Municípios poderão constituir guardas municipais destinadas à proteção de seus bens, serviços e instalações, conforme dispuser a lei.”

É importante lembrar que o Distrito Federal é um “híbrido”, pois comporta-se tanto como Estado quanto Município, em algumas situações.

Não é de hoje que o Brasil vem passando por um processo de “municipalização” da segurança pública e as guardas municipais fazem parte desse processo de “reforma policial”, que silenciosamente está avançando sobre o território Brasileiro.

Assim como ocorreu em outros países, as polícias no Brasil estão se especializando, se profissionalizando e se politizando, consequentemente também estão se descentralizando. Basta ver o processo histórico de formação das polícias no Brasil desde a Guarda real, passando pelas Inspetorias Gerais de polícia, chegando aos atuais modelos de Polícia Militar, Polícia Civil, Polícia Ferroviária Federal, Polícia Federal, Polícia Rodoviária Federal e agora a Polícia Penal, acrescenta-se neste rol descentralizado as Polícias Legislativas e as Guardas Municipais.

O processo de descentralização das funções policiais e o surgimento de novas polícias pode ser resultado de dois fatores básicos: 1) a sua especialização e 2) a sua politização. Ao se especializar as policiais abrem um “vácuo de poder”, assim surgem novas forças para operar. Podemos citar como exemplo a atuação da polícia militar no trânsito do Distrito Federal. O seu afastamento do trânsito fez com surgissem duas categorias fortes na cidade: os agentes de trânsito do Detran e os agentes de trânsito do DER. Por outro lado, o afastamento da Polícia Militar dos presídios, juntamente com os Bombeiros Militares, que faziam a segurança nos presídios fez surgir os “técnicos penitenciários”, os “agentes de custódia” e agora a “Polícia Penal”.

É notório que a Polícia Militar do Distrito Federal vem se especializando e se profissionalizando a cada ano. Melhores salários e a exigência de nível superior, faz com que algumas atividades antes exercidas sejam deixadas de lado. São Paulo é um grande exemplo disso no que tange ao controle dos “camelôs”. Em outros tempos no DF a PM estava nas portas das escolas, nos hospitais, cuidando das passarelas, dos fóruns, da segurança no legislativo, do metrô, dentre outras atividades, que agora são ocupadas por seguranças dos tribunais concursados, por vigilantes ou por policiais legislativos, no caso das passarelas e de alguns prédios públicos, por mais ninguém. Chegando a ter uma “Cia do congresso”, “Cia do metrô” uma “Cia Convênios”. Como explicado acima, um “vácuo de poder” foi deixado, é natural que alguém ocupe.

Sobre questões legais, o termo “polícia distrital”, talvez não seja bem aceito, pois ainda não se aceita o termo “polícia municipal”, quanto a criação de uma “guarda distrital”, é possível que tenha mais amparo, inclusive constitucional. A discussão já se tornou antiga, pois já em 2008 se debatia o tema. Também é possível que o debate ainda permaneça por mais uma década, ainda mais nos moldes que estão sendo impostos, aliado ao corporativismo das forças de segurança existentes, em conjunto com os sindicado dos vigilantes, mas uma coisa é fato, a descentralização das polícias e o surgimento de novas forças é algo irreversível no processo de evolução e de reforma policial. Basta analisar a evolução das polícias no Brasil e no mundo!

Por Aderivaldo Cardoso – Pós Graduado em Segurança Pública e Cidadania pela Universidade de Brasília

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