A desocupação do Torre Palace Hotel, ocorrida no dia 5 de junho, foi realizada sem o consentimento do governador Rodrigo Rollemberg. Revoltados, coronéis da Polícia Militar criticaram a postura do chefe do Executivo nos bastidores da operação, avaliada como muito bem sucedida. Eles revelam que Rollemberg era contra a operação. Ordens do Palácio do Buriti foram enviadas para que a PM desistisse da ideia de tirar os ocupantes do hotel. Mas os policiais decidiram desobedecê-las.
Segundo militares ouvidos pelo Metrópoles – que não quiseram se identificar por medo de represálias – uma verdadeira queda de braço foi travada entre um grupo de coronéis de áreas operacionais e integrantes do primeiro escalão do GDF. Supostas ingerências políticas no trabalho da PM e o descontentamento dos oficiais que estavam à frente da ação teriam resultado em exonerações nesta sexta-feira (10/6).
Os oficiais contaram que, na noite do dia 1º de junho – três dias antes da desocupação –, o comandante-geral da PM, Marcos Nunes, telefonou para o então chefe do Departamento Operacional (DOP), coronel Alexandre Sérgio Vicente Ferreira, que comandava a operação de tomada do hotel. Nunes informou que havia acabado de sair do gabinete do governador com uma nova determinação: interromper a invasão do prédio.
Àquela altura, a “Operação Gerente” – como são chamadas as ações deflagradas para conter crises – já estava em andamento. Nunes teria recebido uma resposta negativa do seu subordinado: o hotel seria invadido por homens do Batalhão de Choque (BPChoque) e de Operações Especiais (Bope), em caso de necessidade, querendo o governador ou não. Por causa do mal estar, uma reunião foi marcada na quinta-feira (9), na sede da Secretaria da Segurança Pública e da Paz Social, para definir os rumos da negociação com os integrantes do Movimento Resistência Popular (MRP), que ainda relutavam em deixar o prédio.
Os coronéis também ficaram irritados com a interferência de outros integrantes do GDF nas negociações conduzidas pelos gerentes de crise durante a operação. Uma das pessoas que teria incomodado os oficiais foi o subsecretário de Movimentos Sociais e Participação Popular do GDF, Acilino Ribeiro.
A todo instante, Acilino e outras pessoas do governo atravessavam a negociação dos policiais com os manifestantes e atrapalhavam o andamento da operação. Caso houvesse algum incidente durante a ação, a culpa, claro, seria da Polícia Militar“. Afirmação de um dos militares
Bate-boca
A relação entre o governo e os coronéis azedou de vez após uma discussão com a secretária de Segurança e Paz Social, Márcia de Alencar. Os militares afirmaram que não aceitariam “ingerências políticas na operação”. Márcia, por sua vez, teria argumentado que seu cargo era político e iria coordenar a ação. “Esse foi o real motivo de os oficiais terem deixado a reunião. O fato de o comandante-geral ter se atrasado e o grupo ter esperado do lado de fora da sala (como tem circulado em mensagens pelo WhatsApp) é uma desculpa”, disse um dos militares ouvidos pelo Metrópoles.
Na manhã do dia seguinte, dois dos coronéis que participaram da reunião acabaram exonerados de suas funções. Coronel Alexandre perdeu o comando do DOP e o coronel Agrício da Silva, do comando do Comando de Missões Especiais. Outros dois coronéis que estavam no encontro permaneceram nos cargos.
O chefe da Casa Militar, coronel Cláudio Ribas, nega uma queda de braço entre a PM e o governo. Segundo ele, a polêmica é alimentada por um grupo pequeno de coronéis. “Não existe eco dentro da corporação. Temos 39 coronéis na PM e apenas os que se sentiram afetados diretamente pelas mudanças estão insatisfeitos, fato natural dentro de uma corporação tão grande. Não existe unanimidade, mas o que posso ressaltar é que os trabalhos estão sendo feitos normalmente”, disse.
De acordo com Ribas, o governador avaliou que um desfecho com violência ou episódio trágico traria muito mais do que um desgaste politico para o governo. “Na verdade não é só uma questão política, é uma questão de cuidado com as pessoas que lá estavam, sejam elas os adultos, as crianças e até os policiais que seriam empregados. Claro que se houvesse um problema teríamos um desgaste político, mas essa não era a preocupação principal. Dessa forma, o governador avaliou que era preferível continuar as negociações no campo verbal sem que houvesse a retomada do prédio em um primeiro momento”, explicou.

Fonte: Site Metrópoles – Por Carlos Carone
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