Todo policial é um líder em potencial, pois tem poder autoridade e legitimidade para atuar
[1]Aderivaldo Martins Cardoso
Quem me conhece e me acompanha sabe que em 2009 tomei uma decisão em minha vida a partir de uma pergunta: “Como me vejo nos próximos cinco anos?”. Minha busca a partir daquele momento foi me tornar a “maior liderança que a PMDF já teve”, “uma referência em segurança pública no DF”, “um homem público respeitado e influente”, “um grande comunicador” e “o maior multiplicador da filosofia de policiamento comunitário no DF”. Acredito que me tornei neste período um pouco de cada desejo. Mas o que ainda me move e me inspira é falar de “liderança”.
Para me tornar a “maior liderança da PMDF”, acredito que hoje eu seja uma “liderança em potencial” tive que aprender muito sobre o que é liderança. Descobri que só aprendemos quando ensinamos. Durante um período dei aula de Chefia e Liderança para praças da PMDF. Nestas aulas eu afirmava e continuo afirmando que o nosso maior problema é a falta de lideranças em nosso meio. Algo forte, mas verdadeiro.
Nossa base teórica sobre liderança vem da Escola Superior de Guerra, que defende o “modelo tradicional de liderança”, ou seja, aquela baseada no cargo. Eu particularmente prefiro e defendo o modelo adotado pela a “Escola Behaviorista”, que defende que todos nós somos líderes em potencial, pois são as características de atuação que irão definir se somos líderes ou não. Outro grande inspirador sobre o tema é John Maxwell, autor de vários livros que sempre constam na lista dos best-sellers do New York Times e que já apresentei vários livros dele por aqui.
Em seu livro Os 5 Níveis da Liderança, Maxwell (2013) afirma que a verdadeira liderança não é questão de ter determinado cargo ou emprego, o que fortalece nossa tese. Na verdade, para ele, ser escolhido para uma posição é apenas o primeiro dos cinco níveis que todo líder eficaz alcança. Para tornar-se mais do que o “patrão” que as pessoas seguem só porque são obrigadas, você tem que dominar habilidades de investir nas pessoas e inspirá-las. Para crescer ainda mais em sua função, você tem de obter resultados e formar uma equipe que produza. Na verdade, você precisa ajudar as pessoas a desenvolver habilidades para tornarem-se líderes por si mesmas. E se você tiver a aptidão e a dedicação, poderá chegar ao pináculo da liderança, que é onde a experiência permitirá que você amplie sua influência além do seu alcance e tempo imediato para o benefício dos outros.
Para Maxwell (2013) a posição é o nível de liderança mais baixo, pois é o nível de entrada. Para ele, a única influência que o líder posicional tem é a que vem com o título do cargo de trabalho, ou seja, as pessoas seguem porque têm que seguir.
A liderança posicional baseia-se nos direitos ganhos pela posição e título. Não há nada de errado em ter uma posição de liderança. Mas tudo está errado em usar a posição para fazer as pessoas seguirem você. A posição é substituta ineficiente para a influência. (Maxwell, 2013: 17)
Muitas vezes percebemos o que Maxwell (2013) está falando em nosso meio na caserna. Para ele, “pessoas que chegam apenas ao nível 1 podem ser chefes, mas nunca líderes. Têm subordinados, não membros de equipe. Contam com regras, regulamentos, políticas e organogramas para controlar seus subordinados”. Ele vai além ao afirmar que: “as pessoas o seguem apenas dentro dos limites declarados da autoridade. E as pessoas farão apenas o que lhes é exigido”. Notamos isto em nosso meio, Maxwell (2013) afirma que: “quando os líderes posicionais pedem um esforço ou tempo extra, raramente são atendidos.
Recentemente temos percebido um conflito entre os policiais mais novos e algumas autoridades mais antigas, uma delas em formatura chegou a chama-los indiretamente de “mimados”, que faziam parte da geração “Toddynho”, ou seja, criados com “leite e chocolate”. Para Maxwell (2013):
Líderes posicionais geralmente têm dificuldade em trabalhar com voluntários, pessoas mais jovens e pessoas de alto nível de escolaridade. Por quê? Porque líderes posicionais não têm influência, e esse tipo de pessoa tende a ser mais independente. (Maxwell, 2013: 17)
Precisamos compreender que “a posição é o único nível que não requer habilidade e esforço para alcançar. Qualquer pessoa pode ser nomeada para uma posição” (Maxwell, 20013). Em contrapartida, o nível de liderança mais alto e mais difícil é o “pináculo”. Este nível exige não só esforço, habilidade e intencionalidade, mas também elevado nível de talento. Para Maxwell (2013) Apenas os líderes naturalmente talentosos chegam a esse nível mais elevado. Mas o que fazem os líderes que atingem o nível 5? Para John Maxwell, eles desenvolvem pessoas para tornarem-se líderes nível 4 e quiça para que cheguem até o nível 5 também.
Segundo Maxwell (2013) se as pessoas são respeitosas, agradáveis e produtivas, podem estabelecer um grau de influência sobre outros e ganhar seguidores com relativa facilidade. Desenvolver seguidores para liderarem por conta própria é difícil. Este é o nosso objetivo neste espaço. Trazer a reflexão, para que nossos seguidores tragam soluções e respostas por conta própria. Para Maxwell:
Muitos líderes não conseguem, porque exige muito mais trabalho do que meramente liderar seguidores. No entanto, desenvolver outros líderes é a tarefa de liderança mais difícil para a maioria. Mas estes são os benefícios: líderes de nível 5 desenvolvem empresas de nível 5. Criam oportunidades que outros líderes não criam. Geram legados no que fazem. (Maxwell, 2013:20)
Recentemente o Tenente Poliglota em seu blog relembrou uma frase que escrevi sobre “legado”, sobre não sermos “imediatistas”, sobre “pensarmos a longo prazo” ao reivindicarmos algo para nossa categoria. Tenho aprendido que o segredo da vida é “ter paciência e fé”. Para encerrar, quando falamos neste tipo de liderança, estamos falando em “reputação positiva”. Para Maxwell (2013) líderes nível 5 muitas vezes transcendem sua posição, sua empresa e, por vezes, seu ramo de atividades. Encerro com uma frase de John Maxwell que ainda mexe comigo: “Líderes não trocam um nível por outro. Adicionam um nível ao anterior. É um processo de construção”. Como sempre digo: a construção da liderança é diária. Para Maxwell (2013) “Líderes que alcançam o nível 5 são reconhecidos por estar nesse nível por causa da reputação em vez de apenas por causa da interação pessoal”. Nunca podemos esquecer o básico da liderança: “liderar é influenciar pessoas”. Independentemente da posição que você ocupa hoje, torne-se um líder, afinal, todo policial é um líder em potencial, pois tem: poder, autoridade e legitimidade para atuar, basta apenas, em alguns casos, conquistar a confiança da comunidade.
Referência Bibliográfica:
Maxwell, John C. Os 5 Níveis da Liderança – CPAD, Rio de Janeiro – 2013. Tradução: Luís Aron de Macedo. Título Original: The 5 Levels of Leadership – Hachette Book Group, New York, EUA, 1ª Edição em Inglês – 2011.
Foto: Os 5 níveis da liderança retirada do Site: http://profissionaiscomproposito.com.br/artigos/os-5-niveis-da-lideranca Acessado em 28/05/2016 as 14:42
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[1] Cardoso, Aderivaldo Martins – É sargento da Polícia Militar do Distrito Federal, Especialista em Segurança Pública e Cidadania (UNB), Autor do Livro: Policiamento Inteligente – Uma análise dos Postos Comunitários de Segurança Pública do Distrito Federal (2012). Instrutor de Chefia e liderança, Ex-Assessor Especial de Gabinete e de Comunicação da Secretaria da Segurança Pública e da Paz Social (2015/2016)