Martin Luther King em um de seus primeiros discursos, ao incentivar a luta por Direitos Civis dos Negros nos Estados Unidos, disse: “Chega a hora em que as pessoas se cansam de ser pisoteadas pelo pé de ferro da opressão. Chega a hora, meus amigos, em que as pessoas se cansam de ser lançadas no abismo da humilhação, onde vivenciam a desolação de um pungente desespero. Chega a hora em que as pessoas se cansam de ser alijadas do brilhante e vívido sol de julho e abandonadas ao frio cortante de um novembro alpino”. Vejo que chegou a mesma hora em nosso meio.
Ultimamente tenho me sentido cada vez mais escravo, diante das chibatadas que todos nós temos levado, não é coincidência que a residência do governador em Águas Claras assemelha-se a uma Casa Grande e nossos quartéis a grandes senzalas.
Decidi me recolher nos últimos dias para refletir sobre a nossa luta. Afinal, estamos lutando pelo o quê? Por duzentos, trezentos, seiscentos reais de aumento? Tenho me perguntando: “vale a pena entrar em um conselho de disciplina para passar por toda essa humilhação por isso?” Confesso aos senhores que eleição nenhuma ou dinheiro nenhum no mundo me faria aceitar algo assim. A única coisa que faz lutar diariamente é o direito de poder falar o que penso. Defender aquilo que eu acredito. Nossa luta vai além de salários, ela também é uma luta por direitos. É uma luta por uma mudança de mentalidade em nosso meio. É uma luta pela “desmilitarização cultural”.
Particularmente, acredito que uma instituição de nível superior, respeitada em todo Brasil, que é fundamental para manter a ordem social em nossa cidade, com pais de família, profissionais exemplares, merece ser respeitada. Respeito passa por liberdade de expressão em nosso meio, respeito passa por melhores salários sim! Do que adianta investir em equipamentos modernos se aquele que opera o sistema não tem nem mesmo a motivação necessária para operá-lo? O equipamento irá torna-se obsoleto. É o que acontece hoje no DF!
O que isso significa? Estamos falando de justiça, que é dar a cada um o merecido. Nós merecemos ter bons salários. É justo ver todas as categorias do Poder Executivo do DF e do Brasil chegar a “classe especial” de suas carreiras em 15 (quinze) anos e terem seus salários em torno de 13 (treze mil) reais, enquanto nós temos uma “promoção” no mesmo período para termos um reajuste médio de R$ 180,00 (cento e oitenta reais)? Nós merecemos ser respeitados!
Há cinco anos escrevo sobre segurança pública no DF, outros blogueiros também, por que só agora querem nos colocar em um conselho de disciplina para nos considerar indignos de sermos policiais? Temos feito mais pela polícia e pela segurança pública do DF do que o atual governo. Não seremos “bodes expiatórios” do sistema. O problema de segurança pública no DF tem um culpado e não somos nós, blogueiros policiais!
A diferença salarial média entre as outras categorias do DF é de aproximadamente R$ 3.000,00 (Três mil reais). Esse é o nosso foco. Grandes vitórias exigem grandes sacrifícios. Quantos estão dispostos ao sacrifício? Se for para brigar apenas por “migalhas” ou “cala boca” é melhor nos silenciarmos. Nossa luta é maior que tudo isso!
As atuais Associações que estão à frente do processo precisam compreender que o que queremos é a isonomia dentro do sistema de segurança pública. O que significa isso? Tratamento igualitário! Não temos direito a greve, não temos direito a sindicalização, não somos respeitados como cidadãos, temos que ter pelo menos o DIREITO de termos voz na sociedade. Por isso querem calar nossa voz! Resistem a nos dar direitos. Já não temos direitos básicos de qualquer trabalhador e agora querem nos retirar o último direito que nos resta, o direito a liberdade de expressão. Algo fundamental no Estado Democrático de Direito. O Fórum de associações precisa compreender que as 13 (treze promessas) são “O COMO” (O CAMINHO QUE) o governo pode nos dar isonomia. E não o “O QUE QUEREMOS”. Vejo que está aí, o cerne da questão para a unificação do discurso em nosso meio.
O Plano de Carreira é o caminho para dar FLUIDEZ A NOSSA CARREIRA. É o como (o meio pelo qual conseguiremos atingir nosso objetivo), pois o que queremos é chegar aos 15 anos de serviço na “classe especial” de nossa carreira, ou seja, subtenentes.
O auxilio (seja lá o nome que for) é o caminho para reduzirmos as diferenças internas e externas na PMDF e na SECRETARIA DE SEGURANÇA PÚBLICA. É por meio das GRATIFICAÇÕES ou AUXÍLIOS que poderemos ter os reajustes que necessitamos. Vejo que queremos a mesma coisa, ou seja, isonomia com os outros órgãos da segurança pública, mas como vários grupos tem visões diferentes do “como fazer” ou “do caminho a ser percorrido”, parece que estamos falando coisas diferentes. Quem tem que dizer “o como” (mostrar o meio ou o caminho pelo qual resolverá o problema) não somos nós, é o governo. Temos que dizer apenas o que queremos, hoje queremos isonomia salarial e funcional com outros órgãos da secretaria de segurança. As lideranças de associações precisam perder o medo de falar isso. Precisamos elevar nossos desejos para elevar nossas conquistas.
Se é para pagar um preço alto em nossas carreiras, que seja por algo realmente Grande. Para ser punido com prisão disciplinar ou expulso por “migalhas” acho melhor me calar. Minha luta é por direitos, não é apenas por salário. Liberdade de expressão já! Isonomia salarial e funcional já!! Quantos estão dispostos a lutar por algo grande: isonomia salarial e plano de carreira? Não é hora de desistir agora. Precisamos aprender com o passado para construir o futuro. No outro movimento fui um dos defensores da “trégua” com o governo. Infelizmente demos a “trégua” e fomos enganados. Não tenho coragem de propor isso novamente. A “trégua” deve ser algo de fórum íntimo.
Termino com mais uma frase de Martin Luther King para nos inspirar:
“Uma ação direta de não-violência tem como objetivo criar crises como esta e gerar uma tensão a ponto de uma comunidade que sempre se recusou a negociar ser forçada a enfrentar a questão.” (Martin Luther King)
Espero que a reunião realizada no Comando da Corporação não seja apenas mais um “teatro de operações” para mostrar à mídia que estão negociando e que a categoria que é intransigente. O passado nos ensinou muito. O governo é hábil e segue as 48 (quarenta e oito) leis do poder, estão neste momento utilizando duas leis:
Lei 42: Ataque o pastor e as ovelhas se dispersam:
“A origem dos problemas em geral pode estar num único indivíduo forte – o agitador, o subalterno arrogante, o envenenador da boa vontade. Se você der espaço para essas pessoas agirem, outros sucumbirão a sua influência. Não espere os problemas que eles causam se multiplicarem, não tente negociar, com eles – eles são irredimíveis. Neutralize a sua influência isolando-os ou banindo-os. Ataque a origem dos problemas e as ovelhas se dispersarão.”
O “teatro de operações” pode ser resultado da Lei 22: Use a tática da rendição: transforme a fraqueza em poder
“Se você é o mais fraco, não lute por uma questão de honra; é preferível se render. Rendendo-se, você tem tempo para se recuperar, tempo para atormentar e irritar o seu conquistar, tempo para esperar que ele perca o seu poder. Não lhe dê a satisfação de derrotar você – renda-se antes. Oferecendo a outra face, você o enraivece e desequilibra. Faça da rendição um instrumento de poder.”
Outra lei verifica na “negociação em curso” é a Lei 13: Ao pedir ajuda, apele para o egoísmo das pessoas, jamais para a sua misericórdia ou gratidão:
“Se precisar pedir ajuda a um aliado, não se preocupe em lembrar a ele a sua assistência e boas ações no passado. Ele encontrará um meio de ignorar você. Em vez disso, revele algo na sua solicitação, ou na sua aliança com ele, que o vá beneficiar, e exagere na ênfase. Ele reagirá entusiasmado se vir que pode lucrar alguma coisa com isso. “
É hora de ficarmos atentos com o “canto da sereia”.