Arquivo do dia: janeiro 10, 2014

Cinco anos de policiamento inteligente (Aderivaldo Cardoso)

Há cinco anos surgia uma Ideia, um conceito, chamado policiamento inteligente. Durante uma especialização em segurança pública e Cidadania, na Universidade de Brasília, tivemos contato com os conceitos de vários teóricos e a troca de experiência com vários profissionais da Polícia Federal, da Polícia Civil, da Polícia Legislativa, do Corpo de Bombeiros e da Polícia Militar.

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Aquele curso em 2008 abriu nossa mente. Foi a segunda turma, atualmente estão indo para a quarta turma.  A partir dali começou uma busca pelos pontos fortes e fracos de nossa corporação, e uma linha de ação foi desenvolvida. Percebemos que a falta de liderança em nosso meio e os conceitos ultrapassados eram um grande problema.  Iniciamos o desafio: líder de um (líder de mim mesmo), líder de 10, líder de 100, líder de 1000, líder de 10.000. Chegamos a dez mil entradas em um único dia. Em um único dia influenciamos dez mil pessoas. Reconhecemo-nos enquanto violentos, enquanto imaturos politicamente e iniciamos uma luta pela “quebra de paradigmas” em nosso meio, ou seja, uma nova visão de mundo era necessária, que depois chamamos de “mudança cultural” e atualmente a conceituamos de “desmilitarização cultural.”

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Um programa de desenvolvimento gerencial na Fundação Getúlio Vargas nos ajudou a ter contato com autores como Edgar Shein, que discorre sobre a “cultura organizacional e liderança”, percebemos que estávamos no caminho certo. Aqui passamos a trabalhar a “desmilitarização cultural” em três eixos: mudança de paradigma em nossa educação, em nosso modelo de polícia e em nossa gestão. Entendemos que nossa formação precisa sair do modelo tradicional e passar para um  modelo “crítico”, dentro de uma visão de Paulo Freire, alicerçado na pedagogia da libertação, esta pedagoria propõe uma educação crítica a serviço da transformação social. Assim, iniciamos a primeira fase do “movimento policiamento inteligente”, ou seja, a fase de conscientização, por meio de novos conceitos tentamos quebrar pré-conceitos (preconceitos), o objetivo foi criar uma nova ideologia, um sistema de ideias complexo que pudesse desconstruir a supremacia dos conceitos “ideológicos” da escola superior de guerra em nosso meio.

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Criou-se então a ideologia do Policiamento Inteligente, que é a busca da eficiência, eficácia e efetividade das ações policiais, mas precisávamos de uma filosofia que desse sustentação a nova ideologia, defendemos então uma aproximação com a sociedade e optamos pelo modelo progressista, que insere as polícias de fato no Estado Democrático de Direito, ou seja, a filosofia de policiamento comunitário. Para isso, precisávamos difundir as ideias, sabendo da importância da comunicação criamos um blog (policiamento inteligente) e incentivamos a criação de novos espaços para difundir o pensamento, publicamos um livro (policiamento inteligente: uma análise dos postos comunitários de segurança), distribuímos dois mil exemplares, dentro do conceito de mobilização interna e externa, procuramos conscientizar o “topo” e a “base”, saímos do modelo de textos curtos e apenas visuais, para textos longos, publicações de monografias e teses sobre o campo policial, funcionamos quase como um curso de “polícia a distância”, apoiamos projetos sociais  e prestamos consultaria para a criação de vários outros espaços de debate, sugiram assim vários blogs conceituados no DF, sendo nosso último desafio a criação do “Entre Blogs”.

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Um debate entre blogueiros diferentes, que discutem os problemas e buscam soluções para nossos problemas. Acreditamos que tal fase foi encerrada e uma nova fora iniciada. Entramos agora na fase metodológica onde definimos nos diversos grupos, por meio do debate em rede, o que queremos e como iremos atingir nossos objetivos. Além disso, define-se também quem iremos mobilizar internamente e externamente e qual o papel de cada um no processo. Estamos avançando! Cada fase pode durar até cinco anos!

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Uma mentira contada cem vezes pode tornar-se uma verdade, mas uma verdade repetida várias vezes pode tornar-se um paradigma difícil de ser quebrado! A polícia precisa mudar, a polícia está mudando a polícia vai mudar!

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Denúncia: Lei Fura-Fila, existe?

Caro Aderivaldo Cardoso,

 Gostaria de fazer uma consulta ao blog. Você sabe se existe alguma lei que permita ao policial militar, em serviço, furar uma fila para pagar uma conta pessoal? Pergunto isso por conta de uma experiência que tive hoje (10-01) por volta das 13h30. Faço a narrativa, a seguir, para que você entenda o contexto.

 Estava há cerca de 20 minutos em uma longa fila na agência dos Correios do centro de Taguatinga quando um policial fardado entrou na agência, conversou com o vigilante e se dirigiu ao caixa para pagar uma conta.  Imediatamente, falei: “policial, o senhor é cidadão como todos aqui, não pode furar a fila.” Tive que repetir mais duas vezes, bem alto, para que ele se virasse. “Eu estou de serviço”, foi sua justificativa.  No mesmo momento falei o óbvio: “então o senhor deve trabalhar e não pagar contas pessoais no horário de serviço, ainda mais furando a fila”.

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 O mais surpreendente de tudo vem agora. O policial me disse que existe uma lei que permite que policiais em serviço passem na frente em filas e que ele tinha sim o direito de passar na frente. Pelo o que conheço de legislação achei muito estranho, no atual regime democrático, a existência de tal lei. Respondi da seguinte forma: “essa lei não existe”. Ele me falou que eu é que desconhecia a legislação e a discussão ficou em “existe”, “não existe” até que perguntei o número da lei. Ele não sabia e que eu que pesquisasse (na verdade então o desinformado não era apenas eu).

 Foi nessa hora que percebi a sua alta patente de oficial e seu nome: Major Cláudio Santos. Ele acabou entrando na fila, contrariado. Ouvi ele dizer a outra pessoa em sua frente, “eu tenho direito”. Notei também que em frente à agência estava uma viatura policial, em fila dupla, com um “motorista” a sua disposição.  No momento em que ele já estava na fila, soltou outra pérola: “enquanto estou aqui na fila, crimes podem estar acontecendo aí fora”. Falei então que o certo era que ele fosse trabalhar. Na hora, fiquei imaginando como deve ser um major, em serviço, trabalhando como praça para combater “os crimes aí de fora”. Achei esse argumento bastante dramático e despropositado, porque se ele estivesse tão interessado em não sair do serviço, não deveria pagar uma conta pessoal, no horário de serviço, furando fila e com uma viatura em fila dupla o esperando na porta da agência. Ele não tem dias de folga ou a Internet para isso?

 O último argumento dele foi de que eu era “arrogante”. A isso, respondi apenas: “então eu sou arrogante, porque não te deixei furar a fila?”. Fiquei mais uns 15 minutos na agência e por todo o tempo ele ficou de pé, imóvel, me encarando. Foi uma tentativa frustrada de tentar me intimidar. Acabou que o pagamento da sua conta foi mais rápido que o meu serviço e o major deixou a agência antes de mim. Ao sair, perguntei ao vigilante o porquê de seu encaminhamento do major à frente dos outros e ele me disse: “o policial falou que estava de serviço e pediu para falar com a gerente para pagar uma conta. Eu sei que está errado, mas não posso negar ao policial” Quando o vigilante foi me contar outros casos parecidos ele falou: “espere aí que ele tá vindo.” O policial voltara, aproveitou para me dar outra encarada, andou em círculo pela agência e saiu. Ao sair vi a viatura parada com o major e outro policial ao volante. Achei melhor me sentar em uma lanchonete da esquina e esperar até que a viatura fosse embora.

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Lamento profundamente pela atitude autoritária de um oficial que acaba por contribuir para uma imagem negativa da corporação. Tenho muitos amigos, praças e alguns oficiais também. Sei da seriedade que têm por seu trabalho e o zelo e orgulho de integrar a corporação. Infelizmente, existem, ainda, atitudes  desse tipo. Acredito que são isoladas e devem ser combatidas. Acho que fiz o meu dever de cidadão em não compactuar com essa atitude desrespeitosa e truculenta. A discussão foi acalorada e nós dois falamos bem alto dentro da agência. Um senhor de idade defendeu que ele passasse na frente “por ser policial” e outro senhor perto de mim falou que era um absurdo, mas bem baixinho para que ele não ouvisse.

Agora um desabafo. Eu sonho com um dia em que o funcionário dos Correios se negue a atender, com privilégios, uma autoridade que se julga diferente dos demais cidadãos. Um dia em que os demais cidadãos da fila fiquem indignados e não permitam tal desrespeito. E por fim, um dia em que uma autoridade, com alta patente seja lá do que for, não faça uso do seu cargo para ter privilégio sobre os demais cidadãos em uma situação como essa.

 Fico pensando que se uma autoridade acredita mesmo que tem direitos diferenciados para tratar de coisas pessoais e que age com a truculência do cargo com um cidadão desconhecido, como devem ser as relações com seus subordinados militares?

 Por fim, a pergunta persiste: existe essa tal legislação fura-fila para policiais em serviço para tratar de assuntos pessoais?

 Estou curioso pela resposta.

 Abraço,

Márcio Andrade

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