Uma polícia violenta é reflexo de um governo violento!

Não há dúvidas de que o Estado é detentor do monopólio do uso LEGITIMO da força para conter as manifestações. Também não há dúvidas de que as corporações policiais devem proteger a vida e o patrimônio. Creio que a dúvida no momento é quanto ao trinômio: Proteção da vida, Proteção do Patrimônio e garantias dos direitos individuais, que passam também pelo respeito ao princípio da dignidade humana, pilares do Estado Democrático de Direito.

Ao abrir os jornais de ontem as manchetes eram dedicas ao “despreparo da PM em Brasília” e a frase de um policial que respondia por que jogou gás de pimenta em manifestantes. A resposta foi simples: “Porque eu quis”.

Durante todo o dia me silenciei nas redes sociais, tentando compreender tudo que estava acontecendo. Vi vários policiais em apoio ao nosso colega, dentre eles o comando da Corporação e a Secretaria de Segurança Pública. O policial que proferiu a frase é uma excelente pessoa, um grande profissional, um jovem oficial com toda uma carreira pela frente.

Ao abrir o jornal de hoje deparo-me com uma declaração afirmando que a OAB acha que a polícia agiu de forma truculenta. Uma representante da OAB afirma que: “Se ainda não conseguimos chegar ao patamar de manifestações inteiramente pacíficas, já deveríamos ter chegado ao patamar de uma polícia que saiba respeitar o ser humano.” Uma frase que merece nossa reflexão.

Ao analisar o cenário e a cena disponível na internet,  o ambiente, apesar da tensão, era de descontração. Acredito que o colega e grande parte dos colegas não tenham a dimensão de tudo que está acontecendo, afinal para nós o que aconteceu ali é “normal”. Nossa formação nos proporciona esta sensação de “normalidade”, afinal ele nem tocou naquele “paisano folgado”, muitos pensam…

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A frase “porque eu quis” e “pode denunciar” é mais ampla e complexa do que nossa mente consegue compreender. A revolta da população não se deu somente pelo gás, em tal contexto, ele tornou-se coadjuvante.

No momento atual, é como se o cidadão perguntasse “por que tudo isso?” e recebesse como resposta: “Porque eu quis”.

Cidadão: “Por que você desviou dinheiro público?”

Representantes do estado: “Porque eu quis”.

Cidadão: “Por que recebeu dinheiro do mensalão?”

Representante do estado: “Porque eu quis”.

Indignado o cidadão diz que irá “denunciar” toda a corrupção e desmandos em nosso país, a resposta para tudo isso é dada pelo representando do estado: “Pode denunciar!”

Para o cidadão é o reflexo do escárnio estatal e da impunidade, ou seja, a conclusão de que “tudo termina em pizza”.

O ponto crucial foram as duas frases proferidas de maneira displicente e até irônica. Olhando a questão legal, o companheiro está bem amparado, afinal ironia não é crime, como bem disse o comandante-geral. O mote da questão é o fato de não ser ali o individuo (fulano de tal) que proferiu tais palavras. Não temos noção do poder e da amplitude de nossa farda e do peso de nossas palavras quando a usamos. Ali na linha de frente estava a figura do próprio governador, ou seja, o próprio estado dizendo: “porque eu quis”.

Todos ali acatavam ordens “superiores”, o governador é o comandante supremo da polícia, uma polícia truculenta é reflexo de um governo truculento.  A polícia faz parte do poder executivo, mas precisamente da administração direta, cada membro representa diretamente seu comandante, ou seja, o próprio governador, o próprio secretário de segurança pública, o próprio comandante geral, o próprio comandante de unidade, o próprio comandante de pelotão e assim por diante.

A defesa que estão fazendo do colega, reflete também o momento. Dizer que ele errou é dizer que o governo errou. Dizer que a polícia é despreparada é dizer que o governo é despreparado neste momento sensível. Neste momento defende-se  o colega em público e corrige-se em particular. Afinal, segundo a Secretaria de Segurança Pública “foi aberto um processo para investigar a conduta do capitão.”

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Saiba mais:

Nota à imprensa

A Polícia Militar do Distrito Federal vai averiguar todas as denúncias veiculadas pela imprensa relacionadas aos episódios ocorridos durante as manifestações de 7 de setembro.

Sobre o assunto, a Corregedoria da PMDF tomou na manhã desta segunda-feira (9) o depoimento do capitão Bruno, comandante da Companhia de Choque do Batalhão de Polícia de Choque, protagonista do vídeo postado nas redes sociais.

Uma avaliação preliminar da atuação da PMDF no 7 de setembro, indica que as ações da corporação se deram com a aplicação das técnicas adequadas ao policiamento em manifestações. As ações policiais não podem ser avaliadas e muito menos denegridas com a veiculação de vídeos claramente editados.

Ainda em relação a atuação do capitão Bruno, a PMDF solicita que os autores das imagens nos enviem o material bruto para que possamos analisar melhor o ocorrido e buscar prováveis erros cometidos pelo policial.

CRIANÇAS FARDADAS

http://www.jornaldebrasilia.com.br/site/noticia.php?violencia-e-deboche-gravados&id=495634

http://m.g1.globo.com/distrito-federal/noticia/2013/09/porque-eu-quis-diz-pm-questionado-por-jogar-gas-em-jovens-no-df-veja.html

4 Comentários

Arquivado em desmilitarização das polícias

4 Respostas para “Uma polícia violenta é reflexo de um governo violento!

  1. João Paulo

    Caro Aderivaldo,
    Concordo plenamente com seu texto. Na moderna administração pública existem princípios, muitos até constitucionais, que não permitem tratar o cidadão dessa forma, mesmo porque este é equiparado a um cliente de serviços. Aqui dentro da instituição seria normal eu como Cabo questionar uma ordem do superior e ter essa resposta do “porque eu quis”, se a ordem for legal cumprirei pelo fato de a instituição ser militar e ter como base hierarquia e disciplina; o que não pode ser extensível à população a qual se deve observar em seu trato os princípios da motivação e da finalidade nas ações públicas. Esse episódio para mim é só mais um em que o Militar atrapalhou a instituição Polícia.
    Como você disse, acredito que o Capitão não imaginou a dimensão e o significado que poderiam denotar de suas palavras, e por um lado todos sabemos que obviamente ele não colocou em seu relatório de serviço que fez ou deixou de fazer alguma coisa porque quis, mas fica muito claro em uma situação dessas que ou você responde motivando corretamente suas ações ou que se cale. Debochar ou cair em provocações não são opções!

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  2. Eduardo

    Fi-lo porque qui-lo; by: Jânio Quadros.

    Esta frase dependendo do contexto soa como a mais pura altivez que é peculiar aos regimes despóticos que possam existir na terra; o aparelho de segurança estatal em todos os momentos tem que deixar transparecer o porto seguro, a salvação, a solidariedade, o socorro, o braço amigo; o bem que vence o mal. Jamais o medo, o desafio, a vingança, a afronta. Portanto em todo o momento de nossas atitudes sempre temos que deixar transparecer a tranquilidade porque naturalmente somos mais fortes que o indivíduo; enquanto força do estado de um estado moderno e democrático que somos. Mesmo no instituto da legítima defesa quando a norma permite-nos matar; devemos ser discretos e evitar as provocações e deixar de lado o ar de superioridade; talvez isso ocorra porque desde a nossa formação embrionário castrense até nossa ida para a reserva ou além; somos incentivados a tripudiar sobre o “paisano folgado”.

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  3. FILIPPI

    O Cap Bruno deu um pontapé fundamental para repensarmos o que ou quem somos e o que ou quem representamos.
    O problema até agora é que estamos sutilmente perdendo a identidade militar mas não temos ainda um novo rosto.
    Estamos perdido em meio a este turbilhão de teses e conceitos agravados por estes recentes acontecimentos de manifestações no Brasil.
    A população e nós Policiais almejamos também tais mudanças. O problema é saber se Governos aceitarão uma POLÍCIA CIDADÃ!

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  4. Pingback: Mais uma vez seremos usados como “cachorros” ferozes de um governo desesperado | Aderivaldo Cardoso

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