Arquivo do mês: junho 2013

Avaliação da reunião com o comandante geral

A reunião contou com a presença de várias associações e de companheiros que acompanham as redes sociais, que  optaram em se auto-representar na reunião, fato que achei importantíssimo.

O  comandante iniciou a reunião falando que nossa instituição é de ESTADO e não de GOVERNO  e que não podemos ser utilizados como “moeda” de troca. Demonstrou preocupação com o momento atual. Discorreu sobre o papel do facebook , das redes sociais e da necessidade de divulgarmos as pautas positivas da Corporação.

Sobre o aumento do voluntário, falou sobre a proposta de redução de tempo de trabalho, para seis horas, e do aumento de 11 mil para 35 mil cotas. Ressaltou também a importância da normatização dos 75% de redução do interstício, para que não fique ao bel prazer dos comandantes.  Falou das mudanças na área de saúde, sobre a dificuldade da rede de telefonia, de averbação de atestados, até cinco dias, pelos comandantes de unidade, e sobre a comissão que no prazo de quarenta dias irá apresentar uma proposta de reestruturação, ele destacou que restam apenas vinte oito dias de trabalho da comissão para conclusão do trabalho. Foi praticamente uma prestação de contas.  Terminou abrindo a fala aos presentes e pediu apoio para que pudesse dar continuidade ao trabalho.

Após sua fala vários representantes de associações e policiais presentes falaram sobre os anseios da categoria e nossa decepção com o atual governo. As associações reunidas declararam lealdade ao atual comandante, ressaltaram que é ao comandante-geral e não ao governo, mas pediram uma solução viável para os nossos problemas.

Conforme debatemos em minha página no face: http://www.facebook.com/aderivaldo.cardoso, pontuei os pontos retirados de nosso debate:

1)      A importância de proteção para os policiais que estão na linha de frente, nas manifestações. A necessidade, imediata, de equipamentos de proteção individual, com a sugestão do modelo alemão, postado aqui em minha página.

1.1.   Ele respondeu que já está vendo a possibilidade de compra de uma “roupa de fibra” e de “escudo especial” para o policiamento convencional;

2)      Falei sobre a importância de um aumento real (curto prazo) e que o momento é favorável para reivindicarmos uma melhoria do valor do risco de morte. Abordei também a ideia de um colega que propôs que a gratificação por serviço voluntário seja transformado em um auxílio que possa ser incorporado posteriormente.

2.1) Ele disse que compreendeu a ideia.

3) Aumento real  (longo prazo) precisamos criar mecanismos para que nos próximos anos (no máximo três) possamos equipar nossos salários aos demais órgãos de segurança. Iguais devem ser tratados como iguais. Não pode haver desigualdade em uma secretaria onde todos fazem segurança pública, quem está na rua somos nós, quem sustenta a segurança pública no DF e do governo federal instalado aqui somos nós.

3.1) Ele afirmou que tem pontuado tudo isso e que parecia que eu havia ouvido o que ele disse em uma reunião…

4) Foi pontuado a questão das perdas quando vamos para a inatividade e que isso precisa ser revisto. Que os próximos aumentos possam também contemplar os inativos.

5) Falou do Termo Circunstanciado que poderá ser feito pela PM, dentre outros pontos.

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Saiba mais:

http://rededemocraticapmbm.com.br/reuniao-com-o-cmt-geral-da-pmdf-2/

http://tenpoliglota2012.blogspot.com.br/2013/06/reuniao-com-o-comandante-geral-ontem.html?spref=fb

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Um pequeno manifesto de um cidadão policial

Hoje estive com alguns amigos, um deles bem entendido de “Uso Progressivo da Força” e “Controle de Distúrbio Civil – CDC” discutindo sobre as manifestações no Brasil e em especial no DF. Existem diversas visões e opiniões, darei aquela mais próxima da filosofia de polícia que eu compreendo ser a mais adequada ao Estado Democrático de Direito, a filosofia de polícia cidadã.
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As manifestações tomaram o Brasil de Norte a Sul, virou uma grande festa, uma grande micareta, um grande carnaval. Quem já trabalhou em micaretas sabe que várias pessoas estão lá para se divertir e somente uma minoria para estragar a festa.
Quando falamos em Controle Distúrbio de Civil, em minha opinião de leigo, estamos falando do claro exercício do monopólio do uso da força pelo Estado. Ao analisarmos o dia de ontem, na Esplanada dos Ministérios, isso era visível, pois de um lado, em linha, na frente do Congresso e em suas laterais, víamos claramente o Estado, representado pela força armada, ou seja, a polícia militar, nas laterais, no flanco esquerdo e no direito também. Ao centro o povo e no meio dele, misturado ao povo, alguns vândalos, ou radicais, grupos que visam o enfrentamento com o Estado. Uma linha à direita, uma linha à esquerda e outra em frente. Primeira a linha, depois as bombas e se for preciso o pau, ou seja, linha, pau e bomba.
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Se as manifestações tomaram o Brasil e viraram uma grande festa, por que não mudarmos nosso modo de atuar em meio às “manifestações”? Por que não vermos as manifestações como uma grande micareta, onde podemos utilizar o policiamento preventivo em meio ao povo, com grupos de busca e captura e serviço velado para prender os “vândalos” e não somente a famosa linha, que demonstra claramente a separação entre o povo e estado? Colocar-nos em linha é mostrar claramente que estamos ali para “reprimir” a manifestação, para calar a voz do povo. Nosso papel deve ser em sua maioria preventivo, mas ao ficarmos em linha, afastados do povo, voltamos no tempo e nos tornamos apenas braço da “ditadura” ou do Estado. Somos muito mais que isso!
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Precisamos repensar nossa atuação nas manifestações, pois nosso modelo mental, nosso treinamento e nossas cartilhas ainda são da época em que o povo era o inimigo, ou seja, aquele que deveria ser contido e combatido a qualquer preço. Precisamos exercer o nosso papel constitucional de proteger a vida, de proteger o patrimônio e de garantir os direitos individuais dos cidadãos. Somos policiais, temos deveres constitucionais, mas também somos do povo, somos cidadãos, não podemos alimentar o ciclo de violência que está instalado nestes movimentos. Devemos agir na vanguarda do Estado Democrático de Direito que juramos proteger.
Quanto aos manifestantes também devem fazer um pacto de não violência. Um pacto de manifestar-se de cara limpa, à luz do dia. A escuridão da noite e as máscaras estão escondendo a cara de pessoas que infringem as leis, que invadem e depredam o patrimônio público e privado, que estão ferindo pais de família, policiais, cidadãos, que estão na linha de frente por dever de ofício, em cumprimento ao juramento que fizeram ao ingressar em suas Corporações. Manifestar é livre, é válido, é exercitar a cidadania. Destruir o que é nosso, pois o patrimônio público nos pertence, é crime, é vandalismo, deve ser repudiado por todos os manifestantes de bem do nosso país. Vamos manifestar, vamos protestar, vamos às ruas! Vamos juntos por um país melhor!
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Publicado aumento do gratificação por serviço volutário!

DECREtO Nº 34.483, DE 25 DE juNhO DE 2013.
Altera dispositivos do Decreto nº 24.619, de 26 de maio de 2004, que regulamenta o pagamento da Gratificação de Serviços Voluntário aos Militares do Distrito Federal.
O GOVERNADOR DO DISTRITO FEDERAL, no uso das atribuições que lhe confere o inciso 8º, do artigo 3º da Lei nº 10.486, de 04 de julho de 2002, c/c o disposto no artigo 100, incisos VII e XXVI, da Lei Orgânica do Distrito Federal, DECRETA:
Art. 1º O artigo 3º do Decreto nº 24.619, de 26 de maio de 2004, passa a vigorar com a seguinte redação:
“Art. 3º A Gratificação de Serviço Voluntário será paga no valor de R$ 300,00 (trezentos reais) por cota de serviço voluntário efetivamente prestado.
Parágrafo único. A fração de hora trabalhada igual ou superior a 30 (trinta) minutos será computada como sendo de uma hora.” (NR)
Art. 2º Este Decreto entra em vigor na data de sua publicação, com efeitos financeiros a partir de 1º de julho de 2013.
Art. 3º Revogam-se as disposições em contrário.
Brasília, 25 de junho de 2013.
125º da República e 54º de Brasília
AGNELO QUEIROZ
http://www.buriti.df.gov.br/ftp/diariooficial/2013/06_Junho/DODF%20Nº%20131%2026-06-2013/Seção01.pdf

 

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Desmilitarização: Modelo civil de polícia volta a ser discutido

Foto: Bernardo Jardim Ribeiro/Sul21

“Também é preciso ter um pouco de amor por esses policiais” | Foto: Bernardo Jardim Ribeiro/Sul21

Samir Oliveira e Rachel Duarte

Ex-secretário de Segurança Pública do governo Olívio Dutra (PT), José Paulo Bisol afirma que passou sua gestão inteira tentando desmilitarizar a Brigada Militar. “Eles são submetidos a uma educação militar antidemocrática”, considera.

Aos 85 anos, José Paulo Bisol recebeu a equipe do Sul21 em sua casa, no município de Osório, para falar sobre segurança pública e policiamento. Ex-candidato a vice de Lula em 1989, quando ainda era filiado ao PSB, Bisol ainda mantém uma filiação formal ao PT – apenas por não ter se dado ao trabalho de cancelar -, mas assegura que não possui mais identificação com o partido. “O PT não existe mais”, entende.

Nesta entrevista, Bisol comenta também sobre as manifestações que vêm ocorrendo no país. Ele se mostra entusiasmado com o movimento, mas lamenta que as causas defendidas, na sua avaliação, sejam “muito pobres”.

“A função policial é a mais difícil que existe e escolhemos os mais pobres para realizá-la”

Sul21 – Como o senhor avalia estes protestos que vêm ocorrendo no país inteiro ?
Bisol – Eu, pela própria condição da minha vida, sou um espectador, olho de longe. Isso já lamento. É um lamento de velho, pois eu gosto é de participar. Sou solidário com eles. O fato de haver violência é inerente a estes movimentos. O ser humano tem tendência para a violência e se a circunstância o envolve… Por melhor que eu seja, se eu me envolvo num movimento, se eu tenho paixões – e se eu não tenho paixões, não sou bem um ser humano -, essas paixões se manifestam e se põem para fora. A violência tem esse aspecto, ela é nossa. Não é dos outros.

Foto: Bernardo Jardim Ribeiro/Sul21

“Eu fico impressionado com esse movimento” | Foto: Bernardo Jardim Ribeiro/Sul21

Sul21 – A ação dos manifestantes pode ser uma resposta à violência da polícia?
Bisol – A polícia de hoje é bem melhor estruturada do que a de 20 anos atrás. A função policial é a mais difícil que existe e escolhemos os mais pobres para realizá-la. Eles são submetidos a uma educação militar antidemocrática. A polícia, hoje, até a militar, é bem desmilitarizada. Eu passei anos na Secretaria (de Segurança Pública) desmilitarizando a polícia, dando cursos de procedimentos não militares. A Brigada é militar em sua organização corporativa, mas é razoavelmente desmilitarizada, no sentido de que a função policial é diferente da função militar.

Sul21 – Em diversos protestos, houve confrontos entre as policias militares e os manifestantes.
Bisol – Também é preciso ter um pouco de amor por esses policiais. Eles participam dessa sociedade dura em que vivemos e exercem uma função muito difícil. Eu defendo muito esses policiais e acho que a Brigada, dentro das condições atuais, é uma boa polícia. Excessos sempre ocorrem. Existe um estudante, como o Pierre, que sai do formato e dos limites do movimento e quebra as vidraças. Existem quantos Pierres? Cada um carrega uma consciência de si e um inconsciente.

“Eu sou homem de esquerda e acho que a esquerda está morta. Se vocês me disserem que Lula é de esquerda eu desmaio”

Sul21 – E o que o senhor pensa sobre as causas que eles defendem?
Bisol – Eu fico impressionado com esse movimento do qual sou solidário, quero que eles tenham condições de continuar para ver se produzem as modificações que querem. Só que essas modificações são muito pobres. Mudar preço de passagem de ônibus e por no meio coisas sem nenhuma viabilidade de realização, como suspender a corrupção… Se nos reunirmos para debater como acabar com a corrupção, certamente chegaremos até o Congresso. Porque o setor de onde emerge mais corrupção no Brasil é o Congresso. Eu participei desse Congresso. É preciso amadurecer e saber o que se quer. Se querem ir contra a Corrupção, como vão inventar um novo Congresso?

Foto: Bernardo Jardim Ribeiro/Sul21

“A teoria do fetiche da mercadoria é válida até hoje. Vocês devem estudá-la” | Foto: Bernardo Jardim Ribeiro/Sul21

Sul21 – Faltariam propostas mais concretas, na sua avaliação?
Bisol – Um movimento desses é uma oportunidade sagrada. Hegel dizia que a razão humana é astuta: fazemos uma coisa e a razão produz outra. A tua e a minha razão seriam capazes de ser mais do que a razão é em nós dois, porque produziria um resultado imprevisto por nós. Eu tenho esperança que esse movimento ganhe forças. Eu sou homem de esquerda e acho que a esquerda está morta. Se vocês me disserem que Lula é de esquerda eu desmaio. É meu amigo, tenho admiração por ele. Mas não é de esquerda, é um capitalista tremendo. Eu gostaria que esse movimento adquirisse uma força transformadora, aí vale a pena. As circunstâncias são favoráveis a isso, no sentido de que há movimentos no mundo inteiro. Mas percebo que ninguém se arrisca a dizer qual é o sentido deste movimento.

Sul21 – Quais propostas teriam que ser defendidas, na sua opinião?
Bisol – Existe vulgarização nas redes sociais e tenho medo que ela atinja os agentes do movimento. As causas são muito pequenas. Para um país que tem o problema de identidade que nós temos… Diminuir preços não é bem o nosso problema. Nosso problema é: quem somos nós? Até onde temos qualidades para perceber a realidade e pensar sobre ela? O século XX foi o século das grandes narrativas, que eram filosofias políticas. Esse século deu o nazismo, o fascismo, o comunismo, que é uma coisa de louco. O fascismo era o mais vulgar. O nazismo teve essa loucura assassina de colocar judeus como símbolo do mal. Não havia movimento que não tivesse uma teoria por detrás. E, às vezes, teorias espetaculares. Marx não é brincadeira. A teoria do fetiche da mercadoria é válida até hoje. Vocês devem estudá-la. Na adolescência, eu ficava impressionado com os guris comunistas, que sabiam muito mais do que eu. Eu tinha aprendido a viver longe das teorias. Eu tinha vivido na alienação histórica mais profunda da humanidade, que é a religião. Você tem direito de acreditar em Deus, mas não tem o direito de exigir que o outro acredite. E você não tem o direito de transformar seus princípios religiosos em lei. E você não tem o direito de não ser suficientemente lúcido para perceber que, se Deus existe, ele é inacessível. Tua razão não alcança. Como se prova isso? Deus sempre é representado por uma figura humana ou animal. Não temos como pensá-lo.

Sul21 – A interferência religiosa na política é um tema bastante atual.
Bisol – O que os evangélicos estão fazendo é uma fundamentalização da religião. E eu não sei qual será o futuro dos Estados Unidos, onde as pequenas religiões crescem. São, inclusive, soluções econômicas. Às vezes, perdemos este sentido. A droga é uma solução econômica. Já imaginou o que eles fazem de dinheiro? Se eu fosse muito pobre, não sei se não iria vender droga.

“Sofri muito. Eu era um ingênuo. A minha esquerda, o meu modo de viver a esquerda, era muito romântico”

Foto: Bernardo Jardim Ribeiro/Sul21

“O que temos são partidos cínicos, que não possuem sequer um programa” | Foto: Bernardo Jardim Ribeiro/Sul21

Sul21 – Voltando ao assunto das manifestações, há uma insatisfação em boa parte das pessoas com relação aos partidos políticos.
Bisol – Quando tu quiseres lidar contra a corrupção no Brasil, tem que começar pelo Congresso e pelos partidos. Os partidos políticos brasileiros são uma vergonha. Havia um com alguma estruturação de povo e com uma substância um pouco camponesa e religiosa: o PT. Mas esse PT não existe mais. O que temos são partidos cínicos, que não possuem sequer um programa. Estão pensando cada dia como vão aprimorar seu interesse eleitoral e quanto dinheiro é preciso para isso. Se o sistema continuar assim, quem tiver mais dinheiro ganha a eleição. Eu gostei de ver os guris quebrarem a bandeira de um partido em São Paulo. Há uma rejeição bonita e verdadeira aos partidos. Há uma relação bem clara entre causa e efeito. Não dá mais para aguentar os partidos. Mas na hora de votar, quem vota são os interessados no que está aí.

Sul21 – O senhor disse que a esquerda está morta. Quando ela começou a morrer?
Bisol – Acompanhei a esquerda e tive participação política. Não gosto nem de lembrar disso, porque sofri muito. Eu era um ingênuo. A minha esquerda, o meu modo de viver a esquerda, era muito romântico, não tinha efetividade nenhuma. Chegou um ponto em que a esquerda não tinha mais caminhos para mim. Eu continuo à esquerda. Mas é preciso dizer com simplicidade: esquerda não tem mais profundidade nenhuma. É apenas uma expressão para dizer que eu não estou do lado dos conservadores. O meu princípio é de que tudo está sempre mudando. Em polícia e em democracia, não penso somente como Marx, penso como Jefferson, da revolução americana, que quando venceu disse: “de 20 em 20 anos temos que renovar”.

Sul21 – É preciso renovar a democracia brasileira?
Bisol – Todo sistema, depois de um certo tempo, não tem mais coincidência com o povo, que se renovou e tem outros sonhos. Temos que estar sempre mudando. O Brasil precisa mudar sua estrutura de governo. Não é passar para as estruturas que existiram no passado, mas é inventar um novo Congresso. Esse Congresso é insuportável. É tão insuportável estar lá dentro como tê-lo ao lado. Lá dentro tem gente muito boa. Mas o sistema é poderoso e aí vem novamente Hegel: há uma força que não é de ninguém, mas que já se consolidou como uma espécie complexa de hábitos mentais que não se muda mais. Isso que consolida os absurdos. O Congresso Nacional é um absurdo descarado, eles não têm nem vergonha. Eu estive lá dentro e vi pessoas maravilhosas, como Darcy Ribeiro, um grande espírito de nação e de solidariedade humana. Então é isso, estou de acordo com este movimento. Mas, sem estar definitivamente fechando o assunto, porque tudo ainda está em andamento, digo que há muita superficialidade nas causas. Não se faz transformação só com isso.

Foto: Bernardo Jardim Ribeiro/Sul21

“Não posso me considerar pessoalmente. Tenho que considerar as pessoas que estão em torno de mim” | Foto: Bernardo Jardim Ribeiro/Sul21

Sul21 – Uma reforma política profunda seria a saída?
Bisol – Temos que começar mudando nós mesmos. Não posso me considerar pessoalmente. Tenho que considerar as pessoas que estão em torno de mim. Em Osório, por exemplo, uma eleição é antiquada, com churrascos, festinhas. Acho interessante que esses guris têm a coragem de pretender obstruir um pouco as partidas de futebol. É uma coragem de adolescente. Há um contrato internacional. Não existe presidente nem nada: a polícia tem que ir e impedir. É um risco para os guris.

“Tarso é um capitalista contra o capitalismo selvagem”

Sul21 – Como o senhor avalia o governo Dilma?
Bisol – Acho a Dilma uma pessoa com uma estrutura política pessoal fantástica. Ela é muito equilibrada e com uma consciência de si bastante amadurecida, sem se pretender a uma transcendência. Só que ela tem que governar ao contrário do que ela pensa. Quantas pessoas ela tem, verdadeiramente, do lado dela? Está todo mundo ao lado dela para que ela governe exatamente como está governando, não como gostaria. Esse é o problema dela, a meu ver, sem pretensão nenhuma de não errar.

Sul21 – E o governo Tarso?
Bisol – Tarso é uma bela pessoa. Gosto muito dele, é meu amigo. Isso é preciso ser dito, pelo que vou dizer agora. O Tarso é o Lula do Rio Grande. Não tem nada de revolucionário. É um capitalista contra o capitalismo selvagem. As soluções dele são capitalistas. O PT não existe mais. Estou dizendo isso literalmente. É igual ao PMDB e a qualquer outro partido.

Sul21 – O PT existia no final dos anos 1980, na época do Olívio?
Bisol – Opa! Olívio é do PT camponês. Não é religioso, mas é da esquerda religiosa. Do ponto de vista dos intelectuais, naquela época ainda existia no mundo a esquerda lacaniana, que é sensacional. Teoricamente, é, hoje, a mais atual. Mas Tarso e a maioria do PT são como o Lula. Eles estão dentro do sistema e de acordo com o sistema. Querem mudar algumas coisinhas, no sentido de que “se eu faço, eu sou”. O fazer precisa aparecer. Politicamente, não existe outro caminho. Sem aparecer, não existem votos. E aí já existe uma tremenda contradição na política, porque o sujeito está sendo político e está pensando em se reeleger. Um dos males da política mundial é que política não pode ser profissão.

Foto: Bernardo Jardim Ribeiro/Sul21

“Governamos com muita dificuldade. Houve resistências ocultas” | Foto: Bernardo Jardim Ribeiro/Sul21

Sul21 – O senhor foi Secretário de Segurança. Na sua avaliação, os governos estaduais possuem controle sobre a Brigada Militar?
Bisol – É um controle conflitivo e dialético. Eles têm o sentido de corporação. A Brigada é uma corporação. Como corporação, supõe uma certa independência. Eles têm muita tradição no sentido de respeitar a figura do governador. O secretário representa o governador. Eu nunca tive grandes dificuldades. Tive outro tipo de dificuldades e posso contar. Quando assumi, um ex-secretário de Justiça, que era primo de uma pessoa que era muito minha amiga, se reunia com os velhos coronéis da Brigada e velhos delegados de polícia para preparar um jeito de impedir o Olívio de governar. Governamos com muita dificuldade. Houve resistências obscuras, não no debate público. Pelo contrário, o debate era tudo que eu pedia e eles nunca quiseram.

Sul21 – Que mudanças o senhor tentou impor na sua época?
Bisol – Eu queria, por exemplo, separar os bombeiros. É uma função muito positiva, generosa, sacrificial e sem violência. Acho que se deve separar. Isso era a parte externa. O que eu queria mesmo era uma desmilitarização espiritual. O tipo de formação militar, se for bem humanizada, é boa, disciplinarmente.

Sul21 – O senhor é a favor do fim da polícia militar, como sugere a ONU?
Bisol – Aí é outra ideia. Polícia tem que ser una. Se tu crias polícias muito diferentes, elas disputam privilégios entre si e não transferem informações. Estão agora com a PEC 37 e essa é uma intuição muito boa do movimento. É um horror essa PEC. Ela transforma a polícia brasileira na maior corporação do país. Vão abafar tudo o que quiserem. Nunca se deve concentrar competências. O que deve se concentrar é a unidade das polícias. Elas devem funcionar complementarmente e isso não existe no Brasil.

Sul21 – Como o senhor trabalhava diante de casos de abusos cometidos por policiais?
Bisol – Isso é um tema mundial. É o tema do código vermelho. Quando a corporação policial tem interesse, ela resolve seus problemas, independentemente de outras instituições. Quando eu assumi a secretaria, os códigos de honra eram fortíssimos na Polícia Civil e na Brigada Militar. Eles, inclusive, tinham pacto com bandidos. Das investigações que fiz, registro diversos encontros neste sentido.

“A RBS, lá embaixo, é unha e dente com a polícia”

Foto: Bernardo Jardim Ribeiro/Sul21

“A mídia é muito policialesca” | Foto: Bernardo Jardim Ribeiro/Sul21

Sul21 – Que investigações o senhor citaria?
Bisol – O mais importante são alguns inquéritos que fiz na época, contra tudo e contra todos. Encontrei alguns policiais extraordinariamente dignos para fazer esses inquéritos. Um deles, inclusive pedi ao Olívio que colocasse na Justiça Militar, o Brum. Ele fez o inquérito sobre o caso em que a polícia matou dois guris que eram assaltantes de ônibus. Eram dois irmãos. Como esses dois guris, num dos assaltos, mataram uma brigadiana, por um tiro infeliz de um deles, a Brigada inteira se reuniu, por fora da lei. Em um código de honra, foram à casa dos guris e massacraram os dois. Esse inquérito foi muito bem feito. Mas aí chegou uma hora em que a mídia começou a dizer que não era bem assim. Era como eu pensava, sim – muito pior até.

Sul21 – A mídia não concordava com o inquérito?
Bisol – O código de honra funciona de uma maneira em que os jornalistas às vezes cooperam com a polícia para ter as informações necessárias. A mídia tem muita ligação com a polícia. Eu fui funcionário da RBS. A RBS, lá embaixo, é unha e dente com a polícia. Se a polícia resolver não gostar de um secretário, assopra para a RBS e a RBS ajuda. Eu não tenho nada contra a RBS, embora eles tenham ajudado a me desmoralizar. Pelo contrário, trabalhei na RBS sem interesse de salário, por gosto. Depois quis sair, porque queria fazer política. Eles foram muito bacanas comigo, eu estava lá como diretor e não sabia fazer as coisas. Eles deveriam ter me posto na rua, mas foram muito tolerantes. Eu que tive que dizer que eu não sabia fazer, então me colocaram no rádio. Eu sou agradecido a eles. Depois se voltaram contra mim. Isso é outro assunto.

Foto: Bernardo Jardim Ribeiro/Sul21

“Se a polícia mesmo se faz, ela e faz como quiser” | Foto: Bernardo Jardim Ribeiro/Sul21

Sul21 – O senhor estudou as cartilhas da ONU para tentar mudar a polícia. Para que a arma fosse utilizada em última instância.
Bisol – Sim. Inclusive fiz dois ou três editais para transformar comportamento tirando princípios da ONU. Quase me mataram. A mídia quase me matou. Me ridicularizaram até na Veja. Eu dizia que a polícia não pode atirar sem dominar a situação. Se pode acertar em outro, não atire. Se está em movimentação, não atire. Tem tanta gente morrendo não de tiro perdido, mas de tiro mal dado. Seja quem for o bandido, se houver risco de se acertar outras pessoas, então que não atirem. Fiz editais neste sentido e fui ridicularizado. A mídia é muito policialesca.

Sul21 – Qual a importância da formação policial para que se tenha uma polícia que respeite os direitos humanos?
Bisol – Nenhum secretário fez muito por isso. O problema é que as polícias conseguiram, com apoio do Congresso, fazer eles mesmos a sua escola, assim como o Exército. A Polícia Civil que faz seu curso em Porto Alegre. Não pode ser assim. Se a polícia mesmo se faz, ela se faz como quiser.

“Polícia não tem que acabar com ninguém. Ela tem que exercer proteção. Poĺícia tem que te dar espaço e tranquilidade”

Sul21 – Então secretários não têm poder de modificar a formação?
Bisol – Têm, porque nós fazíamos cursos. É preciso fazer cursos civis para desmilitarizar a polícia. Mas não pense que a Polícia Civil não tem também uma concepção militar. O Brasil como nação possui uma concepção militar. O pensamento de que eles são bandidos e nós representamos os bons, então precisamos acabar com eles. Isso não é polícia. Polícia não tem que acabar com ninguém. Ela tem que exercer proteção. Polícia tem que te dar espaço e tranquilidade. No que diz respeito aos criminosos, tem que buscá-los e prendê-los.

Sul21 – E diante de uma manifestação, como a polícia deve agir?
Bisol – Não há possibilidade nenhuma de se acertar. Sempre vai haver um ponto discutível, porque vai haver violência. Agora, não se pode deixar um movimento chegar a subir em cima do Congresso. Isso é muito bonito, mas tu tens que ir para a capela rezar para que nada aconteça. Se desse correria lá, teríamos aleijados para tudo que é lado. Não pode deixar se aproximar três metros. O movimento tem que ter espaços livres e tem que ter consciência de que existem lugares onde o acesso não é permitido. É preciso deixar que o movimento tenha flexibilidade. E eles estão bem inteligentes, fazem diversos grupos.

Foto: Bernardo Jardim Ribeiro/Sul21

“Há, universalmente, um desencanto com o sistema capitalista” | Foto: Bernardo Jardim Ribeiro/Sul21

Sul21 – Como o senhor avalia a luta pelos direitos humanos hoje?
Bisol – Fui uma pessoa muito integrada com os direitos humanos, mas hoje sou mais revolucionário. Hoje leio que a revolução sempre fracassa, acaba em terrorismo. Outro dia dei uma palestra aqui na universidade e, depois, fui almoçar com uns amigos e um deles me perguntou: “e se o senhor tivesse que matar pela causa?”. Eu respondi: “se eu tivesse certeza da minha causa, eu mataria”. Mas é difícil ter certeza. A vida de cada um de nós, o que nós pensamos, sentimos e amamos, está dentro de uma verdade que nunca pode ser esquecida: o ser humano se caracteriza pela finitude. Ele nunca alcança o que gostaria de alcançar. Ninguém alcança. A não ser que o objetivo seja diminuir as passagens de ônibus. Isso é algo que a ignorância brasileira nacional não consegue compreender. Somos uma espécie estranha de iluminismo. As pessoas, eu, tu, nós, agimos como se nossas cabeças resolvessem tudo. Como se fôssemos racionais. O que o desejo sexual tem a ver com a razão? E não é normal e natural? E não é estranho? Tu não dominas muito. E não seria bonito, se não tivessem todos esses desvios morais que colocam em cima? A relação seria muito mais transcendente se não fosse o moralismo. A verdade é que ela não é racional, é animal. Pode até existir uma substância espiritual, mas o desejo, seja de quem for, é sexual mesmo. Lacan diz que não se chega nunca à realização sexual, o que é absoluta verdade.

Sul21 – O senhor disse que a esquerda está morta, os partidos são uma vergonha e o Congresso é um absurdo. Como agir diante deste cenário?
Bisol – O que estou dizendo com isso? Estamos precisando de um evento, um fato que mude tudo. É a revolução. Isso pode ocorrer. Há sinais. Há, universalmente, um desencanto com o sistema capitalista. O liberalismo é algo cansado. Mas, como não existe cultura política, ninguém pensa contra. Tanto é que fazem um movimento para mudar preços.

Sul21 – Outros partidos de esquerda que estão na origem destas manifestações atuais não são capazes de produzir uma nova teoria que dê conta dos nossos tempos?
Bisol – Como agentes políticos, esses partidos são interessantes. Mas não têm perspectivas, porque nada se reproduz. Gadamer dizia que compreender é sempre mudar a compreensão. Quando eu compreendo algo, o que mudou foi minha capacidade de compreender. Eles querem refazer uma história que já está feita. Já passou o tempo. É intempestivo. É preciso inventar algo que coincida com essa mentalidade um pouco esvaziada, mas muito produtiva tecnicamente, e que tem riqueza de habilidades e de imaginação nos seus setores.

Fonte: http://www.sul21.com.br/jornal/2013/06/passei-anos-desmilitarizando-a-policia-lembra-jose-paulo-bisol/

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Desmilitarização da Polícia estará na pauta de protesto no Mineirão

REUTERS/Sergio Moraes

Policiais afastam manifestantes com spray de pimenta no confronto do último sábado em Belo Horizonte

Policiais afastam manifestantes com spray de pimenta no confronto do último sábado em Belo Horizonte

Em uma assembleia realizada no último domingo, manifestantes de Belo Horizonte confirmaram um ato no Mineirão, na próxima quarta, e decidiram quatro pautas principais do protesto. Entre elas estará a desmilitarização da polícia, o que pode contribuir com o cenário de conflito entre os dois lados antes da semifinal da Copa das Confederações, entre Brasil e Uruguai.

A pauta foi fechada por um grupo de cerca de 600 pessoas que se reuniram durante a tarde do último domingo debaixo do viaduto Santa Tereza no centro de Belo Horizonte. A reunião, que foi acompanhada de perto pela polícia, reuniu líderes de movimentos sociais diversos, entre eles o Comitê Popular da Copa da Belo Horizonte, que questiona os gastos com os grandes eventos.

Depois da fala de dezenas de manifestantes, a assembleia confirmou o ato da próxima quarta. O grupo partirá da Praça Sete de Setembro às 12h e vai até o estádio Mineirão. As propostas do protesto são a suspensão da Lei Geral da Copa, o estabelecimento de um piso nacional de salários para professores da rede estadual, a redução da tarifa do transporte público em Belo Horizonte e a desmilitarização da polícia.

A inclusão do último item acirra os ânimos entre manifestantes e oficiais, que entraram em conflito no último sábado, antes do jogo entre Japão e Nigéria. Na ocasião, cerca de 100 mil pessoas estavam nas ruas de Belo Horizonte, foram impedidas de chegar até o Mineirão e acabaram entrando em conflito com a polícia.

Os manifestantes apontam abuso de força por parte dos oficias que, por sua vez, protestam contra o vandalismo do outro lado. Nesta segunda, a Polícia Militar deu sinais claros de que deve haver conflito antes do jogo do Brasil.

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“Acabou a ação reativa que a PM estava mantendo até agora. Vamos adotar tolerância zero nos protestos”, disse Luiz Alberto, tenente-coronel da PM ao UOL.

Por parte dos manifestantes também há a expectativa de tumulto. Embora o Comitê Popular da Copa oriente os envolvidos a não agirem violentamente, o tema é tratado com naturalidade no protesto. Na assembleia do último domingo, por exemplo, diversos discursos questionando a ação da PM e acirrando os ânimos entre as partes.

O confronto do último sábado deixou marcas na capital mineira. Um dia depois, a cidade ainda apresentava rastos de destruição em ruas da região central, onde ocorreu o confronto com a Força Nacional. A previsão de um novo tumulto fez com que a polícia fizesse até um apelo aos pais para que não deixassem seus filhos se juntarem à manifestação.

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Fonte: http://copadomundo.uol.com.br/noticias/redacao/2013/06/24/desmilitarizacao-da-policia-estara-na-pauta-de-protesto-no-mineirao.htm

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